Telefone sem fio/estragado: um balanço

 

Buscando produzir uma ação que interrompa (simbólica e factualmente) os elos da transmissão parafrástica dos lugares comuns da historiografia modernista, o Grupo de Estudos da Deriva realizou nos dias 17 e 18 de maio, no Instituto de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, um jogo de telefone sem fio/estragado com “O Movimento Modernista”, conferência de Mário de Andrade proferida em 1942 e base da história monumental do modernismo paulista/brasileiro (ver post anterior neste site).

Como o Grupo já tinha atestado em ação prévia, o logos não é facilmente desmobilizável – seja embaralhando um texto, como já foi tentado (https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.v1i26p190-209), seja transmitindo-o num circuito pensado para o deturpar, como foi o caso agora. À questão do logocentrismo, somam-se também questões de ordem tecnológica, e os resultados obtidos foram variáveis, desde trechos pouco alterados no fim da cadeia de transmissão telemática-sussurrante até trechos com sentido bastante deturpado. O texto final completo será publicado em momento oportuno.

A ação realizada agora com falantes nativos de português europeu será replicada em breve em outros contextos linguísticos e com participantes igualmente alheios ao monumento historiográfico modernista. Por ora, resta dizer que fica registrada uma ação frágil (porque ostensivamente contramajoritária) de resistência ao roteiro habitual (celebratório ou crítico, mas via de regra monumentalizante) da efeméride. Abaixo segue o último parágrafo da conferência de Mário, a confrontar com o vídeo de sua transmissão, acima:

Eu creio que os modernistas da semana acadêmica não deveriam servir de exemplo para ninguém, mas inspiração porque eu jamais fui tão momentâneo que agora. Abusar da nossa atualidade, da nossa comunidade, da nossa diversidade. Inteiramente o social o homem político. Essa a essência de nossa nacionalidade. São coisas que podem me satisfazer, os outros no meu caminho. Se houve fazer arte ou ciência, mas não fique aí diariamente perdido e camuflado. Esperando as multidões passarem, as multidões. Nossas opiniões nunca precisaram dessa imparcialidade. E enquanto estiver entre os vivos a arte há de existir. Será que a arte é uma bobagem. Será que o direito é uma bobagem. A liberdade não é um prêmio mas a sensação que a de vir.

Participaram da ação, do Brasil, Vanessa Caspon e Ericson Cruz, integrantes do Grupo de Estudos da Deriva, e as seguintes alunas da Universidade de Coimbra: Carla Pinto, Luísa Batista, Alícia Cardoso, Maria Inês Pichel, Catarina Ramos, Márcia Gonçalves. A produção foi de Carla Pinto, Keissy Carvelli, Thales Stefani e Marcelo Moreschi.

O Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Coimbra agradece a disponibilidade do Professor Marcelo Moreschi, da UNIFESP, para a condução deste experimento performativo, bem como a disponibilidade de todos/as os/as estudantes participantes.

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