A TEORIA DA LITERATURA NO BRASIL: texto de referência

O texto de referência do colóquio A Teoria da Literatura no Brasil, a ter lugar na sala do Instituto de Estudos Brasileiros da FLUC a 6 e 7 de junho próximos, será o seguinte:

A introdução da disciplina da Teoria da Literatura no Brasil remonta, como é sabido, à década de 1950, quando Afrânio Coutinho, ex-aluno de René Wellek, propôs a sua criação na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade do Estado de Guanabara, depois designada Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Entendida então como disciplina propedêutica ao estudo da “Ciência da Literatura”, tal conceção viria a conflituar com outra, que passou a dominar a disciplina ao longo dos anos 60 e 70, anos da sua expansão curricular, para a qual a Teoria da Literatura seria antes, nas palavras de Luiz Costa Lima em 1975, a “suma dos estudos literários”, conceção que viria a coincidir com o apogeu do estruturalismo na universidade brasileira. O triunfo desta segunda conceção, que se prolonga pela década de 80, acusará, contudo, desde cedo, um processo de desagregação induzido pelas várias correntes pós-estruturalistas, sendo a mais vincada a Desconstrução, a que se seguirão os efeitos (des)concertados do Feminismo e dos Queer Studies, bem como dos Estudos Culturais, culminando quer nas querelas identitárias em torno do cânone, quer na desvalorização do capital cultural da literatura.

Este processo viveu no Brasil paredes meias com formas de pensamento teórico que, provenientes de outras áreas do estudo da literatura – em particular, a orientação sociológica do trabalho de Antonio Candido, com as noções de “sistema”, na Formação da Literatura Brasileira, e de “estrutura”, posteriormente – neutralizaram sem problemas aparentes o conflito novecentista entre Teoria e História da Literatura, o que permitiu relançar, por mais algumas décadas, as condições de possibilidade da narração da História da Literatura Brasileira, muitas vezes em versão comparatista.

Não surpreende, pois, que o texto introdutório ao número 28.2 (2008) da revista Remate de Males, Revista do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, cujo dossiê é dedicado à “Teoria Literária Hoje”, abra deste modo:

A teoria literária, hoje, é um campo tão instigante quanto confuso. Do ponto de vista institucional, a variedade entre os departamentos e programas de pós no Brasil é imensa, e de forma alguma projeta uma imagem homogênea do que seria essa subdisciplina dos estudos literários. Em alguns lugares, aquilo que se chama teoria literária é na realidade literatura comparada, enquanto em outros o nome de estudos culturais talvez fosse mais apropriado. Porém, essa falta de clareza pertence ao próprio objeto definidor da área. Por um lado, a teoria muitas vezes oferece interpretações inovadoras, e sua complexidade conceitual revela sentidos muito além das limitações do senso comum; por outro, os discursos teóricos parecem autonomizar-se, deixando a literatura em um segundo plano. (Fabio Akcelrud Durão, Jefferson Cano, Alexandre Soares Carneiro)

É este panorama “tão instigante quanto confuso” que o colóquio “A Teoria da Literatura no Brasil”, uma organização conjunta do Instituto de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e do Centro de Literatura Portuguesa (unidade de I&D da FCT com sede na FLUC), deseja interrogar, recorrendo para tal a nomes consagrados do Brasil, Portugal e, eventualmente, de outros países. O colóquio terá lugar nos dias 6 e 7 de junho de 2023 na sala do IEB da FLUC e contará com o seguinte temário:

  1. História curricular e situação institucional da Teoria da Literatura no Brasil.
  2. O diálogo interdisciplinar: filosofia, antropologia, linguística, psicanálise.
  3. Relações da Teoria da Literatura com outras disciplinas dos estudos literários: a Crítica, a História, a Literatura Comparada.
  4. Sucessos e fracassos da Teoria da Literatura no ensino e pesquisa da literatura no Brasil.
  5. As grandes figuras e o corpus local da Teoria da Literatura.
  6. A teorização num país periférico.

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